04.
Procuro um Tempo
Audelina Macieira
Procuro um tempo, que não é este tempo, um tempo dos poetas esquecidos,
um tempo dos velhos amigos, um tempo menos agressivo.
Procuro um tempo que não ficou para trás, vive em algum tempo
esquecido em um mundo magico nada mais. Talvez em uma caixa chamada coração.
Foram as cantigas inocentes e as batidas do sino da igreja
foram dias de euforia , do balançar da
rede na varanda e do som do chinelo na sala.
Foram dias inesquecíveis, da fogueira na porta em noite de São joão,
da dança que entorta a cintura de pilão.
E os assombros das histórias perdidas no retomar da vida ao fim do dia.
Procuro não esquecer e lembrar me faz viver
sinto que outros tempos virão e outros tempos não
mas, na grande partida lembrar como é linda a vida.
Salvador- Bahia
05.
RECADO DE JOÃO... PARA SÃO JOÃO...
Eloisa Antunes Maciel
Escuita meu tocaio lá de cima!
Eu sou uma coitada criatura...
Não faço verso, não escrevo rima...
Não vivo de festança ou de fartura...
Sei que no inverno tem uma festança,
A tua linda Noite de São João...
Que nessa festa tem as comilança,
Muita pipoca e também quentão...
Eu moro nos quintão lá de um abismo...
Sou anarfabeto – e serei sempre assim...
Gravei teu nome pelo catecismo
Que fessora da vila leu pra mim...
Mas sei que escuitarás o meu pedido,
Pois não te negas de atendê ninguém...
Recebe o meu recado comovido:
Eu peço a bênção pro teu... João Ninguém!
São Martinho – RS
06.
São João dos Milagres
Marcelo de Oliveira Souza, IWA
Existe uma cidadezinha muito pequena perto de Salvador, que se chamava Ruinópolis, o lugar era uma verdadeira ruína como sugere o seu nome, ou até seria pelo comportamento dos seus moradores, ninguém sabe.
No centro desse lugarejo existia a comunidade mais influente, com empresários e funcionários da prefeitura, grupo que não se misturavam, eram verdadeiros rivais.
Onde um dizia que era para construir abrigo, outro queria construir mercado e vice versa.
Um dos mais influentes era o tal Zé dos Pombos, funcionário público aposentado, como o nome sugere, o homem administrava agora uma criação desses animais alados que sujavam a praça inteira, incomodava todo mundo, mas ele continuava no seu intuito de criar os animais a céu aberto, construindo um pombal no centro do obelisco.
Sua amiga mais próxima chamava Célia, que por sua vez amava os caninos, onde surgia latido, estava ela cuidando dos danados.
O seu primo Zé dos Bodes resolveu imitá-la, investindo numa criação desse animal na garagem, mas ali os caprinos só passavam a noite, porque eles dominavam a praça do centro da cidade.
Os animais sujavam tudo, nem adiantava o padre Gonçalves pregar em praça pública sobre tolerância, pois dava a maior confusão.
Nessa cidade ninguém se entendia, todos queriam fazer o que desejassem, os empresários, assim, resolveram inaugurar uma boate na praça junto à igreja que dava a maior confusão, pois André, o mais influente deles, coletou assinaturas da maioria das pessoas, dizendo que iria fazer um centro social urbano, mas na verdade fizeram um mini centro comercial, que depois de construído ninguém se manifestou contra, pois o lugar era um terreno da prefeitura e como as pessoas pensam que o que é público não é de ninguém, deixaram para lá, só fazendo resmungar entre os seus vizinhos.
Nesse centro comercial existia uma boate que dava a maior confusão, pois vinha gente de todos os lugares, até de Salvador, para provar o caldo de sururu do Seu Bernardo. O pior é que não tinha mais lugar para estacionar, o que gerava mais confusão ainda, pois o estacionamento era mesmo na rua ou na porta de garagem da vizinhança; não tinha fiscalização nenhuma que desse jeito, resultando em muitas brigas.
Assim a sociedade seguia no seu daltonismo sentimental, onde ninguém era amigo de ninguém, sempre queriam algum de troca, pensando ser mais esperto do que o outro.
A cidade ia se destruindo com o tempo, o lixo era acumulado logo na entrada da cidadezinha, chamado até de "lixão dos desesperados", pois ali se encontrava de tudo, onde vinham muitos badameiros de tudo quanto era lugar.
Certo dia, apareceu um homem chamado João, dirigindo um caminhão de laranjas, ele percorria a cidadezinha toda oferecendo o seu produto.
O senhor era hostilizado, porque naquele lugar não cabia mais nada, era boate, estacionamento, bodes, pombos, cães e tudo que você pudesse imaginar.
Ao chegar a data magna do município, São João, padroeiro da cidade, eles não sabiam mais o que fazer para organizar a tradicional quermesse junina, evento tão comemorado quanto o Natal.
Dona Zélia e Seu Luan, moradores mais idosos do lugar, eram os responsáveis pela organização há décadas, só que o lugar onde faziam o festejo era o antigo terreno da Associação dos moradores, que agora se transformara na oficina de Seu Nelinho.
- Agora o que iremos fazer?
Disse seu Luan.
Eles marcaram uma reunião com a comunidade, sabendo do grande risco que era, pois ninguém aceitava ninguém como vizinho tampouco como amigo.
A data marcada para o dia doze de junho foi estratégica para ver se o amor prevalecia entre os cidadãos daquela triste e complicada cidade.
Chegando no dia, a turma toda estava reunida:
Seu Zé dos Pombos logo disse que não iria dar certo, pois iria atrapalhar o pombal que tinha construído do lado da estátua do criador da cidade; Dona Célia ratificou que seus animais não iriam sair prejudicados, começando o maior burburinho; foi quando o padre Geraldo gritou por socorro, dizendo não aguentar mais por tamanha desunião.
Nessa hora o vendedor de frutas tomou a palavra, dizendo ter chegado a pouco tempo e nunca viu uma cidade com tamanha desunião, com tantos problemas, que a cidade estava sendo mal falada em toda as regiões que passava, que Ruinópolis estava se destruindo, não possuía mais um serviço que funcionasse corretamente.
Ele lembrou do negativismo que permeava o lugar, onde nem as crianças são felizes, pois não tem mais pracinha para brincar, porque o lugar era habitado por todos os tipos de animais.
O homem saiu vaiado do lugar, onde os próprios seguranças da prefeita Nilda, defensora dos animais, trataram de colocá-lo para correr, terminando assim a reunião, resultado na suspensão da festa por tempo indeterminado.
O nosso amigo Luan saiu consternado, até passando mal, dizendo que as pessoas pensam que o que é público não é de ninguém, muito pelo contrário, que só irão se unir quando acontecer uma tragédia, pois tem muita gente que é assim, só se une depois dos desastres.
Passados alguns meses Seu Luan adoeceu e ninguém sabia o que ele tinha, teve que ir às pressas para Salvador, pois ali nada funcionava, descobrindo que ele estava com uma doença grave por causa das fezes dos pombos, deixando muita gente consternada.
Foi uma verdadeira comoção, a praça foi interditada pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, que fez uma verdadeira limpa.
Muita gente falou que foi por causa do padroeiro da cidade que não teve a sua festa, mas agora nada adiantava, pois o nosso moribundo passou dessa para melhor, sendo um grande grito de alerta para todos, que de uma hora para outra passou a se organizar, gerando muita confusão no início mas no final resolveram se unir e até mudar o nome da cidade para São João dos Milagres onde o novo prefeito, o tal João das frutas, resolveu organizar a cidade, plantando árvores frutíferas e organizando o serviço publico, tornando o lugar muito conhecido no seu maior evento: a festa de São João, com o Festival das Laranjas.
O nosso prefeito chegou até a criar uma pracinha com o nome do morador mais querido da cidade, o Seu Luan, onde ele deixou a célere frase:
- As pessoas só se unem depois dos desastres.
Salvador- Bahia
07.
VIVA SÃO JUÃO!
Humberto – Poeta
Cumé bão festa junina,
Pois, véia, moça i minina,
Tudas éla entra na dança!
Nu pôntu ninguém num drómi,
Us cabôco mata a fómi
I túdu múndu ênchi a pança!
Eu vô cumê uma canjica
C'a minha cunhada Chica
Mais a cumádi Zabé...
I adispois di um bão quentão
Eu vô vê si inda to bão
Pra caí nu arrasta-pé!
U Tonho puxa a sanfona,
I a Bilica sorterona
Sórta prá Zéfa as fofoca...
Dissi qui viu u Zé do quêju
Na Candinha pregá um bêju
Cos bêiçu chêi di passoca!
Da fia du Zébedeu
Tudu mundu iscafedeu
Co'a farta di inducação!
Adispois qui arregalô-se
Di pinhão, batata dôci,
Garrô di sortá rojão!
I tântu fidia aquilo,
Nas venta, nus gragumilo,
Qui dava inté cumichão!
Mai dêxa u fedô pra lá,
Vâmu São Juão festejá
Cum rojão o sem rojão!
São Paulo- SP
08-
ARRAIAL DA PAZ
Fernando Alberto Salinas Couto
Ao primeiro acorde da sanfona,
começa toda movimentação,
na frente da nossa igreja matriz.
Barracas cobertas com lonas,
para brinquedos e alimentação,
prometendo uma festa feliz.
Vestindo aquelas saias rodadas,
as mocinhas vão chegando,
de rostos pintados e a sonhar
que assim, hão de ser admiradas
e conquistar algum namorado,
para trocar carinhos e para amar.
Calças rancheiras, camisas xadrez,
botas de couro e chapéu de palha,
vestem os rapazes na pracinha.
Todos na mesma esperança, talvez.
em conseguir realizar a escolha
de uma linda e formosa caipirinha.
Amendoim, algodão doce, pipoca,
pamonha, pé de moleque, paçoca
e brincadeira de correio do amor.
Batata doce preparada na fogueira
e, ao lado, uma mulher rendeira,
com amor, vai costurando uma flor.
Assim, depois da quadrilha dançar
deixando toda a tristeza pra traz,
quando a cidade toda se cansar,
ficará, apenas, aquele clima de paz.
INÉDITO
RJ – 18/06/15
09.
FESTAS JUNINAS NO NORDESTE
Josue Ramiro Ramalho
No inverno dos nordestinos
Onde vivemos desde meninos
Trabalhando e cantando feliz
Ninguém segurava a alegria
Nas festas que se faziam
Nas noites que eu sempre quis
Quando junho chegava na roça
Fogueiras em frente às palhoças
Nas noites que a gente ascendia
Tantos fogos a pipocar
Muito forró sempre a tocar
Num mundo de fantasias
Santo Antonio Comemorava
Depois, São João emendava
Até São Pedro vir festejar
Nas rodas de danças faceiras
Minha gente bem brasileira
Dançava pra noite virar
Canjica, bolos, amendoins
Pamonhas, licores, enfim!
Faziam a festa maneira
Sanfoneiros no salão tocavam
E, enquanto o povo todo dançava
Eu assava milho na fogueira
Frutas da época de montão
Alegrando o nosso São João
E todo nordestino agradecia
Com tanta fartura da terra
Ninguém ali pensava em guerra
Só festejando com alegria
Nas roupas bem coloridas
A gente entregava a vida
Para a festa sempre dar certo
Depois do arraiá formado
Os pares dançavam de lado
E todos ficavam espertos
Na roça, alguns também se casavam
Em volta das fogueiras juravam
Se amarem eternamente
Assim, todo São João deixa lembrança
Pois é festa cheia de esperança
Que não foge de nossa mente.
Texto inédito
Salvador- Bahia
10.
Saudade do meu amor
Wellington Costa
Se saudade fosse verbo,
Amor seria sujeito.
Eu seria predicado,
Ao invés de pronome, perfeito.
Mas, como amar é verbo,
E saudade uma sensação que me assola;
Então, eu serei o sujeito
Que guarda teu amor no peito,
E com o frio da saudade se enrola.
Inédito
Cabedelo- Paraíba
11.
O São João da minha infância
Wellington Costa
Quando lembro
Do São João de quando era criança
Retorno no tempo,
Me contento
Com a saudosa lembrança.
Rosinha, flor do sertão,
Com seu vestido, todo enfeitado,
Fazia meu coração pulsar
Chegava até a pular
Dentro do meu peito apaixonado.
À noite, se fazia uma festa
A rua toda enfeitada
Com balões, bandeirinhas e a fogueira
Ali, se brincava a noite inteira,
Até ao chegar da madrugada.
A gente, namorava escondido
O coração explodia constante,
Sem maldade, eram só beijos de brincadeiras
Que aconteciam, por traz das bananeiras
Meninos viravam homens por um instante
O tempo passa, a gente cresce,
Ficam as memórias que nos visitam com frequência,
Diferentes das práticas do presente
Onde os casais só ficam, sem se saber o que sente,
Diferente do São João da minha infância.
Inédito
Cabedelo- Paraíba
12.
BÃO MESMO É NA CAPPAZ!
Celso Corrêa de Freitas
13.
Nesta Noite
Audelina Macieira
Nesta noite de São Pedro
dançar sem medo ao redor da fogueira
lembrar do arrasta pé com você.
Nesta noite levar a alegria
vestidos de caipira em um balanço
perfeito, cores avermelhadas nas bandeirolas
até a madrugada.
Maria e Antonio vão casar
sob a luz e calor da fogueira acessa
que esquenta os dançadores
que exaustos gritam
anarié..
E a noite vai seguindo sem tristeza
afinal é noite iluminada onde a euforia
acaba quando amanhecer.
Salvador - Bahia
14.
CARROÇÃO DA ALEGRIA
Joyce Lima Krischke
Andamos felizes no carroção
Fazendo da vida uma canção
No balanço gostoso deste dia
Sinto-me feliz: pura alegria!
No caminho encontro quero-quero
Ao longe no gramado verde...
Chegou São João que tanto espero
De dança tenho sede
Quitutes, amendoim e quentão
Entra o som para alegrar meu coração.
Alegria e festa... a vida se revela.
Sim, vivemos na Paz e na harmonia
Seguimos dançando neste dia
Rodam o baile junino... ele e ela!
Palmas- Celso Ramos, 11/06/2015
SC